monte roraima

Imagem de capa: Misstetei, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

Monte Roraima: O Mundo Perdido

O Monte Roraima é uma das formações geológicas mais impressionantes da América do Sul, situado na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Com seus imensos platôs, penhascos verticais e neblina constante, essa montanha inspira aventureiros e cientistas há séculos. Sua aparência imponente e isolamento natural lhe renderam o apelido de “mundo perdido”, despertando o fascínio de exploradores e turistas.

Além de sua beleza cênica, o Monte Roraima possui grande importância cultural e científica. Para os povos indígenas, como os pemons, a montanha é sagrada e cheia de lendas. Geologicamente, sua estrutura sedimentar milenar guarda fósseis e espécies endêmicas, tornando-se um laboratório natural para pesquisadores e um destino inesquecível para os amantes do montanhismo.

O Monte Roraima está protegido pelo Parque Nacional Canaima, na Venezuela, e pelo Parque Nacional do Monte Roraima, no Brasil. Essas áreas de preservação garantem a proteção da fauna, flora e formações geológicas únicas. O acesso controlado e a atuação de guias ajudam a minimizar os impactos ambientais.

História e Mitologia

Lendas indígenas e o mundo perdido

Para os povos indígenas da região, como os pemons, o Monte Roraima é um local sagrado, envolto em mitos e histórias ancestrais. Segundo a lenda, a montanha era um imenso tronco de árvore que sustentava todas as frutas do mundo. Os deuses, furiosos com a desobediência dos humanos, cortaram-no, criando o imenso platô que vemos hoje. Esse mito reforça a visão do Monte Roraima como um local de grande importância espiritual, onde espíritos e forças ancestrais ainda habitam suas misteriosas paisagens.

Exploração europeia e descobertas científicas

Os primeiros relatos ocidentais sobre o Monte Roraima surgiram no século XVI, quando exploradores espanhois e britânicos ouviram dos indígenas sobre uma montanha intransponível e coberta de mistérios. No entanto, foi apenas em 1884 que a primeira expedição bem-sucedida ao topo foi realizada pelo explorador britânico Everard Im Thurn. A partir daí, cientistas passaram a estudar sua geologia única e biodiversidade extraordinária, revelando fósseis e espécies endêmicas que só existem nesse ambiente isolado.

O Monte Roraima na literatura e cultura popular

O Monte Roraima serviu de inspiração para a literatura e o cinema, sendo um dos cenários do clássico livro O Mundo Perdido (1912), de Arthur Conan Doyle. Na obra, o autor imaginou o platô como um habitat para dinossauros e criaturas pré-históricas. Além disso, sua paisagem única influenciou animações como Up – Altas Aventuras, da Pixar. Sua aura de mistério e isolamento continua a atrair viajantes, escritores e cineastas, consolidando seu lugar na cultura popular mundial.

Geografia e Características

Monte Roraima satelite 1

Coordenação-Geral de Observação da Terra/INPE, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Localização e fronteiras internacionais

O Monte Roraima está situado na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, sendo um dos pontos mais altos da região, com 2.810 metros de altitude. A maior parte da montanha pertence à Venezuela, onde está localizado o Parque Nacional Canaima, que protege sua biodiversidade. No Brasil, ele faz parte do estado de Roraima, dentro do Parque Nacional do Monte Roraima. Seu isolamento geográfico e difícil acesso contribuem para a preservação de seu ecossistema único.

Formação geológica e paisagens únicas

O Monte Roraima é um dos tepuis mais antigos do planeta, com formações geológicas que datam de quase dois bilhões de anos. Sua estrutura é composta principalmente por arenito, moldado pela erosão ao longo dos milênios, criando cavernas, fendas e piscinas naturais.

No topo, a paisagem é surreal, lembrando um outro planeta, com rochas de formatos inusitados e uma névoa constante que intensifica a atmosfera misteriosa da montanha, tornando-a um destino fascinante para aventureiros e cientistas.

Clima e ecossistemas peculiares

O clima no Monte Roraima é caracterizado por chuvas frequentes e temperaturas baixas, que podem chegar a 5°C durante a noite. A umidade constante favorece a formação de neblina e pequenas cachoeiras que despencam das bordas do tepui. 

A vegetação é composta por plantas adaptadas a solos pobres e ambientes extremos, como bromélias e orquídeas raras. A fauna inclui rãs minúsculas, insetos endêmicos e algumas aves que se adaptaram ao ambiente isolado, reforçando o caráter único deste ecossistema.

As Trilhas e Atrações

monte roraima mapa de trilhas

monte-roraima-mapa-trilhas” por Sobre Montanhas, CC BY-SA 4.0

A trilha para o Monte Roraima parte da Aldeia de Paraitepuy, na Venezuela, e leva cerca de seis a doze dias para ser concluída, dependendo do roteiro contratado. O percurso inclui travessias por savanas, rios e subidas íngremes até o topo do tepui. Lá em cima vários roteiros diferentes podem ser programados, porém o trajeto até o topo é único. Nem no Brasil e nem na Guiana existem trilhas oficiais de acesso.

O Básico Do Que Você Vai Encontrar Na Expedição

1º dia: Travessia da fronteira (aproximação com veículos)

Geralmente a expedição começa em Boa Vista (RR), com um briefing e preparação das mochilas. Em vans ou táxis, o grupo segue por quase 3 horas pela BR-174 até Pacaraima onde, após os trâmites na fronteira terrestre e troca de veículos para 4×4, entra na Venezuela.

Após passar a fronteira, chega a Santa Elena de Uairén, onde há tempo para descansar, trocar moeda e fazer compras de última hora para o trekking. O transporte 4×4 então leva o grupo até a comunidade indígena de Paraitepuy num trajeto de 2 horas , onde a equipe de carregadores pemons (nativos) e guias é apresentada.

A partir dali a caminhada então começa. Após cerca de 12 a 14 km, feitos em aproximadamente 3 horas, chega até o acampamento do Rio Tek para passar a primeira noite da expedição, passando por savanas sob calor intenso e cruzando rios.

2º dia: Caminhada até o acampamento base

No segundo dia de trilha, os participantes atravessam rios como o Rio Tek e o Kukenán e enfrentam subidas entre savana e encostas mais íngremes, percorrendo cerca de 9 km de distância e 800 metros de desnível até o acampamento base, em aproximadamente 7 horas, com vistas impressionantes dos tepuis ao redor.

3º dia: Ascensão ao topo

Chega o dia mais exigente: o trajeto de cerca de 4 km até o topo inclui passagens por locais icônicos como Paso de las Lágrimas e La Rampa. A trilha entra em uma mata exuberante e passa bem ao lado do imponente paredão. Após ascensão de mais de 800 metros, incluindo escalaminhadas, finalmente alcança-se o cume do Monte Roraima onde a paisagem surreal recompensa o esforço. Porém, ainda é necessário caminhar mais 1 hora e meia até o acampamento no topo chamado de “hotel”.

4º a 8º dia (variável): Exploração no topo

Os dias seguintes (variados conforme roteiro) são dedicados à exploração do platô, com trilhas entre formações rochosas, piscinas naturais, chuva intensa, ventos e neblina constante. Os guias locais e carregadores fornecem alimentação e assistência, enquanto os trilheiros exploram áreas como o Mirante La Ventana, Mirante do Abismo, Jacuzzis, Salto Catedral, El Maverick, Mirante dos Guacharos, Jardim das Fadas, Cânion de Los Guacharos, Monte Kukenan, Pedra da Tartaruga e Pedra do Coração Partido. Sempre sob condições climáticas instáveis.

E tem um roteiro que inclui o acampamento na Gruta Quati, que fica na parte brasileira do Monte Roraima, uma travessia rumo ao norte pelo topo de quase 12 km da entrada no platô, e é chamada de “Hotel Quati”. Nessa área, você poderá visitar outras atrações como El Foso, Marco da Tríplice Fronteira, Vale dos Cristais, Mirante Roraiminha, Lago Gladys e Mirante da Proa, também aproveitando a oportunidade para dizer pra todo mundo que também pisou em solo guianês (risos)!

Vale ressaltar que os dias de acampamento no topo são variados conforme o planejamento e desejo de visitação das atrações permitidas. Alguns roteiros podem incluir até 8 dias no platô, com planejamento muito mais elaborado e custoso também.

Próximos dias: Retorno e travessia de volta

A descida pelo Paço das Lágrimas e La Rampa é um grande desafio, pois exige bastante força nas pernas e joelhos. Um bastão de caminhada ajuda muito a reduzir esse desgaste. É também preciso muito cuidado com torções de tornozelo devido as pedras soltas. 

A conclusão da expedição é feita geralmente em mais dois ou três dias, a partir do acampamento no Hotel Balbina no platô, repetindo a rota até o campo base e aldeia Paraitepuy. 

Após chegar a Santa Elena, o grupo atravessa novamente a fronteira até Pacaraima (trâmites mais ágeis com apoio da agência) e retorna a Boa Vista. O desembarque final permite reviver a experiência antes de seguir para casa.

Flora e Fauna

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Charles Besancon, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, undefined

Espécies endêmicas e raras

O Monte Roraima abriga diversas espécies endêmicas que não existem em nenhum outro lugar do mundo. Entre elas, destacam-se as famosas e pequenas rãs negras ou rãs do Roraima, que não pulam (Oreophrynella quelchii). Essas rãs se adaptaram ao ambiente rochoso e úmido sendo uma das espécies únicas que habitam o tepui, sobrevivendo em um ecossistema isolado e altamente especializado. 

Além dela, insetos e plantas carnívoras também se adaptaram ao solo pobre em nutrientes. A flora inclui orquídeas, bromélias e musgos que sobrevivem às condições extremas do topo, tornando a montanha um verdadeiro refúgio para a biodiversidade única.

Adaptações às condições extremas

As espécies do Monte Roraima desenvolveram adaptações impressionantes para sobreviver ao ambiente frio, úmido e de solo pobre. Algumas plantas, como as heliamphoras, são carnívoras e obtêm nutrientes capturando insetos. 

Muitos animais, como rãs e insetos, possuem colorações escuras para absorver calor. A vegetação rasteira e resistente consegue se fixar nas rochas, suportando ventos fortes e mudanças bruscas de temperatura ao longo do dia.

O impacto do turismo na biodiversidade

O aumento do turismo no Monte Roraima traz desafios para a preservação da fauna e flora. O pisoteamento da vegetação sensível e a interferência nos habitats naturais ameaçam esse ecossistema frágil. Por isso, as expedições seguem regras rígidas, como carregar todo o lixo de volta e em nenhuma hipótese retirar qualquer elemento natural do local. A conscientização dos visitantes é essencial para minimizar impactos ambientais.

Dicas

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Glauco Machado Bueno, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, undefined

Preparação para a Expedição

A preparação para a expedição ao Monte Roraima exige um planejamento detalhado, com logística muito bem estruturada e um bom condicionamento físico. A trilha é desafiadora, com terrenos irregulares, subidas íngremes, travessia de rios e condições climáticas imprevisíveis.

A contratação de guia especializado ou agência de turismo é crucial e obrigatória, assim como o apoio dos nativos da região, que conhecem a montanha e suas particularidades. Isso garante uma experiência mais segura.

Condições físicas e exigências para o trekking

A expedição ao Monte Roraima exige preparo físico, pois envolve longas caminhadas, subidas íngremes e terrenos acidentados. Ter resistência aeróbica e força nas pernas ajuda a suportar o percurso. É importante também estar em boas condições gerias de saúde.

Lembre-se que você irá dormir na barraca todos os dias e não irá descansar a contento. Se você já é um trilheiro acostumado com esse tipo de atividade, irá encarar sem maiores problemas. Mas se você está sedentário, nunca ou pouco praticou montanhismo, essa jornada irá te trazer extremo desconforto, cansaço e consequentemente insegurança. E Isso também colocará o planejamento do grupo em risco. Treine e acostume-se com acampamentos em outras montanhas antes de se programar para o Monte Roraima!

Equipamentos essenciais para a trilha

Para enfrentar a trilha do Monte Roraima, é essencial levar itens como botas resistentes, mochila confortável, roupas impermeáveis e itens gerais que envolvem acampamentos de 6 a 12 dias, como um bom saco de dormir adequado para baixas temperaturas, roupas térmicas e barraca. 

Além disso, pelo menos umas 3 lanternas com vários kits de baterias reservas, bastões de caminhada e purificadores ou filtros de água são indispensáveis. O peso da mochila deve ser bem planejado para garantir conforto e mobilidade. Os guias locais contratados levam uma boa parte do peso dos ítens necessários para a expedição.

Dificuldades e desafios do percurso

Monte Roraima maverick
  • A caminhada até o topo do Monte Roraima é considerada desafiadora, exigindo resistência física e preparo mental. 
  • O terreno irregular, o clima imprevisível e a umidade constante tornam a jornada ainda mais exigente. As subidas são longas e cansativas, com trechos escorregadios e pedregosos.
  • Prepare-se para enfrentar frio intenso à noite e madrugadas. 
  • A travessia dos rios exige atenção pois é comum o desequilíbrio e escorregões nas pedras lisas. 
  • O peso da mochila e a necessidade de acampamentos sucessivos podem aumentar o nível de dificuldade.
  • Atenção onde pisa ou coloca as mãos pois diversas espécies de animais peçonhentos fazem parte do ecossistema do Monte Roraima, como a cascavel e a aranha armadeira. Nunca deixe sua barraca ou mochila com o zíper aberto! 

Melhores épocas para visitar

O Monte Roraima pode ser visitado durante todo o ano, mas as condições climáticas variam bastante. A estação seca, entre dezembro e abril, é considerada a melhor época para trekking, pois as chuvas são menos intensas e o caminho fica mais acessível. Já na estação chuvosa, de maio a novembro, a trilha pode ficar mais escorregadia e os rios mais cheios, dificultando a travessia. No entanto, as cachoeiras no topo ficam mais volumosas, criando um cenário ainda mais impressionante.

Cuidados com a segurança e riscos naturais

Como já dito, a trilha apresenta severos desafios como chuvas repentinas, terrenos escorregadios e temperaturas baixas. Para evitar acidentes, é fundamental caminhar com atenção, respeitar os limites do corpo e seguir sempre os guias. Além disso, é preciso se proteger contra insetos, manter-se hidratado e levar um kit de primeiros socorros. A segurança depende do planejamento adequado da expedição.

O Monte Roraima, devido ao seu ecossistema único e isolado, abriga uma variedade de fauna, incluindo alguns animais peçonhentos. Embora o risco seja relativamente baixo em comparação com outros ambientes naturais, é importante estar ciente de sua presença durante a expedição.

Entre os animais peçonhentos, destacam-se algumas espécies de serpentes, como a jararaca (Bothrops jararaca), comumente encontrada nas áreas de mata e a cascavel (Crotalus durissus), que podem ser encontradas em áreas mais baixas e abertas, perto das trilhas. Aranhas, como a Aranha Marrom (Loxosceles) e a Armadeira (Phoneutria), cuja picada pode trazer sérios problemas e escorpiões que têm uma picada dolorosa e potencialmente perigosa.

Para minimizar o risco de acidentes com animais peçonhentos, é essencial usar botas e roupas longas, prestar atenção ao caminhar em áreas de vegetação densa e onde apoiar as mãos. Siga as orientações dos guias locais, que têm um conhecimento profundo da fauna da região.

Conclusão

Jacuzzis Monte Roraima

Misstetei, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

Explorar o Monte Roraima é uma experiência inesquecível que todo trilheiro deveria experimentar, combinando aventura, desafios e paisagens extraordinárias. A imensidão do tepui, suas formações rochosas surreais e a conexão com a natureza proporcionam uma jornada transformadora. Cada passo nesse ambiente revela a grandiosidade desse lugar único, repleto de mistérios e belezas naturais.

A caminhada pelo Monte Roraima vai além da aventura, proporcionando uma profunda conexão com a natureza. O isolamento, a diversidade de ecossistemas e o respeito às tradições indígenas reforçam a importância da preservação ambiental. Essa experiência inspira uma nova perspectiva sobre a relação entre o homem e o meio ambiente.

Conhecer o Monte Roraima desperta o desejo de novas aventuras e descobertas. Para muitos, essa jornada serve como um incentivo para explorar outras montanhas e trilhas pelo mundo. Reforça o compromisso com o turismo sustentável, garantindo que paisagens extraordinárias como essa permaneçam preservadas para as próximas gerações.

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