primeiras ascensões em montanhas no brasil

História das Primeiras Ascensões em Montanhas no Brasil

O montanhismo no Brasil tem uma história rica e cheia de desafios desde suas primeiras ascensões. A conquista das montanhas brasileiras começou com exploradores, cientistas e aventureiros que desbravaram terrenos desconhecidos em busca de conhecimento e superação. Essas primeiras expedições abriram caminho para o desenvolvimento da atividade, transformando a relação do ser humano com as alturas.

Ao longo dos séculos, o montanhismo evoluiu, passando de uma prática limitada a poucos exploradores para um esporte e uma paixão de muitos. As primeiras ascensões nas montanhas do Brasil marcaram o início dessa jornada, despertando o interesse por novas rotas e incentivando a criação de grupos organizados. Com isso, nasceu uma cultura montanhista que persiste até hoje.

Os Primeiros Registros de Ascensões

Não constam dados documentados de ascensões de picos no Brasil anteriores ao século 19, mas existe um consenso de que bandeirantes já subiam os morros em explorações territoriais, já no século 17.

Os primeiros registros de ascensões em montanhas ocorreram a partir de 1817, quando a inglesa Henrietta Carsteirs, residente na cidade do Rio de Janeiro, aos 39 anos, ousou escalar a rocha íngreme do Pão de Açúcar, fincando a bandeira britânica no topo após intensos esforços, tornando-se a primeira pessoa conhecida a alcançar o cume. Porém, é provável que militares portugueses tenham escalado o Pão de Açúcar antes de 1817, dada a importância estratégica do local desde a fundação da cidade em 1565.

Em meados de 1830, tem-se registros de ascensões à Pedra da Gávea e Maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro, realizadas principalmente por proprietários rurais do ciclo do café, interessados em explorar e mapear a região. 

Mais tarde, foi realizada a primeira tentativa de ascensão ao topo do Pico das Agulhas Negras em Itatiaia, por Franklin Massena em 1856. Outras tentativas ocorreram em 1878, por André Rebouças, e em 1898, por Horácio de Carvalho. No entanto, o cume só foi alcançado em 1919, por Carlos Spierling e Osvaldo Leal.

Mas em agosto de 1879, um grupo de paranaenses, liderado por Joaquim Olímpio de Miranda, realizou a escalada ao Pico Olimpo, nome atual, dado em homenagem ao conquistador, que planejou a expedição com objetivo esportivo, com desejo de aventura e pela apreciação das belezas naturais. Essa conquista é considerada o marco inicial no montanhismo nacional, nos moldes em que é praticado pela imensa maioria das pessoas até hoje.

Em 1912, o Dedo de Deus, localizado na Serra dos Órgãos no Rio de Janeiro, foi escalado por José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Américo, Alexandre e Acácio de Oliveira, todos naturais de Teresópolis. Esses cinco jovens teresopolitanos enfrentaram desafios significativos para alcançar o topo de 1.692 metros de altitude.

No Paraná, a primeira ascensão documentada ao Pico Paraná ocorreu em 1941, quando Reinhard Maack, um explorador e geógrafo alemão, liderou uma expedição que comprovou ser essa a montanha mais alta da região Sul.

Todas essas expedições pioneiras enfrentaram desafios significativos, como a falta de equipamentos adequados e o desconhecimento das rotas, mas abriram caminho para o desenvolvimento do esporte no país.​

Montanhas Icônicas e Suas Primeiras Conquistas

  1. Pão de Açúcar (RJ) – 1817

A primeira ascensão documentada ao Pão de Açúcar foi realizada em 1817 pela inglesa Henrietta Carsteirs. Com ajuda de marinheiros, ela fincou a bandeira britânica no topo. No entanto, há indícios de que militares portugueses tenham escalado a montanha antes, por razões estratégicas.

  1. Pedra da Gávea (RJ) – 1830

Considerada uma das montanhas mais desafiadoras do Rio de Janeiro, a Pedra da Gávea teve suas primeiras ascensões registradas por exploradores e fazendeiros na década de 1830. Essas expedições visavam reconhecimento geográfico e estudos científicos, além de apreciação das vistas panorâmicas da cidade e da Baía de Guanabara.

  1. Pico da Bandeira (MG/ES) – 1859

Com 2.892 metros, o Pico da Bandeira é a terceira montanha mais alta do Brasil. Sua primeira ascensão registrada ocorreu em 1859 pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que explorava o interior do Brasil. Ele deu à montanha esse nome devido à intenção de D. Pedro II de colocar uma bandeira no cume.

  1. Pico Olimpo no Conjunto Marumbi (PR) – 1879

O Pico Olimpo, com 1.539 metros de altitude, foi conquistado por Joaquim Olímpio de Miranda e um grupo de exploradores paranaenses em agosto de 1879. Esse feito deu origem ao montanhismo no Paraná, sendo um marco na história das atividades de escalada e exploração do país.

  1. Pico dos Marins (RJ/SP) – 1911

A primeira expedição ao Pico dos Marins foi liderada pelo padre Ernesto Gama e acompanhada por outros exploradores, incluindo João de Almeida e Eurico de Gouveia. Com 2.420 metros de altitude, o pico é um dos mais altos do estado de São Paulo e se tornou um destino popular para os montanhistas. Sua conquista marcou o início das explorações sistemáticas na região, incentivando a prática do montanhismo e a valorização das montanhas brasileiras.

  1. Dedo de Deus (RJ) – 1912

Localizado na Serra dos Órgãos, o Dedo de Deus foi escalado pela primeira vez em abril de 1912 por José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Américo, Alexandre e Acácio de Oliveira. Essa conquista é considerada o marco inicial do montanhismo esportivo no Brasil.

  1. Pico das Agulhas Negras (RJ) – 1919

Com 2.790 metros de altitude, o Pico das Agulhas Negras teve sua primeira ascensão bem-sucedida em 1919 pelos montanhistas Carlos Spierling e Osvaldo Leal. Antes disso, tentativas frustradas foram realizadas por Franklin Massena (1856), André Rebouças (1878) e Horácio de Carvalho (1898).

  1. Pico Paraná (PR) – 1941

A primeira ascensão registrada ao Pico Paraná, o ponto mais alto da Região Sul do Brasil, ocorreu em 13 de julho de 1941. A expedição foi liderada pelo pesquisador alemão Reinhard Maack, acompanhado por Rudolph Stamm e Alfred Mysing. Localizado na Serra do Ibitiraquire, o pico possui 1.877 metros de altitude e recebeu esse nome em homenagem ao estado do Paraná. Sua conquista marcou um avanço importante no montanhismo paranaense, impulsionando a exploração da região e a criação de trilhas para futuras expedições.

  1. Pico Maior de Friburgo (RJ) – 1946

O Pico Maior de Friburgo, com 2.366 metros de altitude, é o ponto culminante da Serra do Mar, localizado em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. A primeira ascensão registrada ocorreu em 1946, realizada por Sylvio Mendes, Índio do Brasil e Reinaldo dos Santos, que abriram a via Sylvio Mendes, com 300 metros de extensão.

Equipamentos Utilizados nas Primeiras Ascensões

corda sisal mochila lona

Equipamentos: Corda de Sisal e Mochila de Lona

Nas primeiras ascensões em montanhas no Brasil, os exploradores utilizavam equipamentos rudimentares, muitas vezes adaptados do dia a dia. Cordas de fibras naturais, como cipós e lianas, eram empregadas para auxiliar na escalada e na segurança dos aventureiros. Botas de couro com solados grossos ofereciam alguma aderência, mas não eram ideais para terrenos íngremes e escorregadios. Facões e machadinhas ajudavam a abrir caminho pela vegetação densa, enquanto mochilas de lona carregavam suprimentos básicos. A iluminação era feita por lampiões e tochas, já que as subidas podiam durar horas ou dias.

A segurança era mínima, com ancoragens improvisadas e pouco conhecimento técnico sobre proteção contra quedas. Atualmente, os equipamentos são altamente especializados, incluindo cordas dinâmicas resistentes, mosquetões, capacetes e dispositivos de segurança como freios autoblocantes. Além disso, a evolução dos calçados com solados aderentes e roupas técnicas proporcionam maior conforto e desempenho nas escaladas.

Técnicas de Escalada e Progressão

Sem os recursos modernos de escalada, os primeiros montanhistas utilizavam técnicas de progressão baseadas na força física e na adaptação ao ambiente. Muitos exploradores recorriam a apoios naturais, como fendas e raízes, para subir com segurança. Em rochas mais inclinadas, improvisavam sistemas de ancoragem com estacas de madeira ou amarrações em saliências. A progressão era lenta e cuidadosa, pois uma queda poderia ser fatal. Além disso, o conhecimento topográfico e a navegação por pontos de referência eram essenciais para garantir a orientação em meio às serras e matas fechadas.

Hoje, técnicas avançadas de escalada, como o uso de proteções fixas e móveis, permitem maior eficiência e segurança. Além disso, o treinamento técnico e o conhecimento sobre nós, ancoragens e resgate em altura garantem um nível de proteção muito superior, tornando o montanhismo mais acessível e seguro para os praticantes.

Impacto das Primeiras Ascensões em Montanhas no Brasil

A criação de clubes e a disseminação da cultura montanhista

As primeiras ascensões às montanhas brasileiras despertaram o interesse pela prática do montanhismo como atividade esportiva e recreativa. 

Os clubes de montanhismo oferecem cursos e atividades que incentivam a prática segura e consciente do esporte, contribuindo para a formação de montanhistas completos e preparados para os desafios das áreas naturais. Além disso, a exploração das montanhas fomentou o turismo e fortaleceu a valorização da natureza como um espaço de desafio e contemplação.

A fundação do Centro Excursionista Brasileiro (CEB) em 1919 no Rio de Janeiro foi um passo importante para a organização e promoção do montanhismo. O CEB é um dos clubes de montanhismo mais antigos das Américas e desempenha até nos dias atuais um papel fundamental na formação do perfil do excursionismo no país. Esses pioneiros estabeleceram as bases para a organização de expedições e incentivaram a troca de conhecimentos sobre técnicas de escalada e segurança.

No Paraná, o Conjunto Marumbi tornou-se um dos principais atrativos turísticos e um centro para a prática do montanhismo técnico e caminhadas. A beleza natural da região continua a atrair montanhistas e aventureiros, contribuindo para a preservação e valorização das áreas naturais. Atualmente, clubes como o Clube Paranaense de Montanhismo (CPM), fundado em 1978, continuam a promover o desenvolvimento do montanhismo em suas diversas modalidades. 

Esses pioneiros estabeleceram as bases para a organização de expedições e incentivaram a troca de conhecimentos sobre técnicas de escalada e segurança. 

Expansão das Rotas de Escalada

As primeiras ascensões incentivaram a abertura de novas rotas em diversas montanhas do Brasil, permitindo que mais aventureiros explorassem regiões antes desconhecidas. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Pão de Açúcar e o Dedo de Deus passaram a contar com caminhos mais acessíveis ao longo do tempo. Esse crescimento possibilitou o desenvolvimento de diferentes estilos de escalada, como a tradicional e a esportiva, consolidando o Brasil como um dos principais destinos para montanhistas na América do Sul.

Inspiração para Novas Gerações de Montanhistas

Os feitos dos primeiros exploradores motivaram novas gerações a se desafiarem nas montanhas, criando uma cultura de superação e respeito à natureza. Figuras icônicas, como os conquistadores do Dedo de Deus em 1912, inspiraram montanhistas a aprimorarem suas técnicas e explorarem picos ainda mais altos e desafiadores. Esse legado segue vivo até hoje, impulsionando atletas a buscar novas rotas e recordes, além de estimular o crescimento do montanhismo como prática esportiva e estilo de vida.

Influência na Preservação e no Desenvolvimento do Esporte

Com o crescimento do montanhismo, aumentou também a consciência sobre a necessidade de preservação ambiental. A criação de parques nacionais, como o da Serra dos Órgãos em 1939, protegeu áreas de escalada e trilhas históricas. Além disso, o aprimoramento das técnicas e equipamentos possibilitou a popularização do esporte, tornando-o mais seguro e acessível. Atualmente, o montanhismo no Brasil continua evoluindo, combinando tradição e inovação para garantir sua prática sustentável.

Conclusão

As primeiras ascensões em montanhas no Brasil, marcaram o início do montanhismo nacional, combinando exploração, pioneirismo e superação de desafios. Esses feitos abriram caminho para o desenvolvimento da escalada como esporte e influenciaram a criação de clubes, trilhas e rotas que ainda hoje atraem aventureiros de todo o país.

Além de impulsionar o montanhismo, essas conquistas reforçaram a importância da preservação ambiental e do turismo sustentável. O legado dos primeiros exploradores continua vivo, inspirando novas gerações a desafiar seus limites e valorizar a riqueza natural das montanhas brasileiras, mantendo viva a tradição e evolução desse esporte centenário.

Imagem de destaque é ilustrativa do artigo

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