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Serra Do Divisor: Um Paraíso Selvagem Pouco Conhecido No Acre

Imagem de capa: Rio Moa – Por Vanda Viveiros de Castro, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons;

A Última Fronteira Selvagem do Brasil

Localizada no extremo oeste do Acre, na fronteira com o Peru, a Serra do Divisor é considerada uma das áreas mais preservadas e pouco exploradas da Amazônia brasileira. Sua densa floresta, rica em biodiversidade e formações naturais únicas, cria um cenário de beleza rara, quase intocado pelo turismo convencional.

Além de abrigar espécies endêmicas e paisagens deslumbrantes, como cachoeiras cristalinas, a região é um convite para aventureiros que buscam experiências autênticas na selva, com o adicional da adrenalina de navegar pelo importante Rio Moa. Conhecer a Serra do Divisor é explorar um paraíso selvagem, ainda desconhecido pela maioria dos viajantes, mas cheio de potencial para o ecoturismo.

Serra do Divisor: História e Características Naturais

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Visão do Mirante Jacirana. Por Agência de Notícias do Acre, CC BY 2.0 https://creativecommons.org/licenses/by/2.0, via Wikimedia Commons;

O Parque Nacional da Serra do Divisor

Criado em 1989, o Parque Nacional da Serra do Divisor é administrado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Localizado no extremo oeste do Acre, faz fronteira com o Peru e abrange municípios como Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Cruzeiro do Sul, Marechal Thaumaturgo e Porto Walter.

A área total do parque ultrapassa 843 mil hectares, abrigando uma das maiores diversidades biológicas do país. Distante cerca de 700 km de Rio Branco, a capital acreana, o acesso combina viagens fluviais e terrestres, exigindo um rigoroso planejamento logístico. Essa localização remota reforça sua condição de santuário natural quase intocado.

Formação Geológica e Paisagens Únicas

A Serra do Divisor apresenta uma formação geológica singular, marcada por terrenos acidentados e pequenos morros que se elevam no coração da Amazônia. De encontro ao que muitos pensam, o ponto culminante não é no morro onde está instalado o Mirante da Jacirana, e sim, numa elevação coberta por floresta, ao norte do parque e à noroeste do estado, à 627m do nível do mar (mapa BDGex). 

Além do relevo marcante, a Serra do Divisor abriga rios sinuosos, cachoeiras de águas cristalinas e florestas densas que se entrelaçam em um mosaico natural fascinante. 

Biodiversidade Impressionante

cachoeira pirapora 1

Cachoeira Pirapora 1

O Parque Nacional da Serra do Divisor é considerado um dos mais ricos em biodiversidade de todo o território brasileiro. Aves como o Mutum-Cavalo, pássaros raros como o Choca-do-Acre, a Maria-sebinha-do-Acre e o Capitão-de-colar-amarelo, cervos, queixadas que se deslocam em bandos, os ágeis macacos-aranha que saltam pelas copas das árvores e nos igarapés, jacarés podem ser avistados discretamente, compondo o cenário selvagem da região.

Além dos grandes animais, a serra também abriga espécies menores, mas igualmente fascinantes, como a temida formiga tocandira, conhecida por sua picada extremamente dolorosa. 

Essa variedade biológica está diretamente ligada à preservação de seus habitats naturais, que permanecem em estado quase selvagem. Pesquisadores destacam a importância da área para estudos sobre a evolução da fauna e flora amazônica, além de reforçar a necessidade de conservação ativa contra ameaças humanas.

Clima e Melhor Época para Visitar

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Cachoeira do Amor

A Serra do Divisor apresenta clima equatorial úmido, caracterizado por altas temperaturas e elevada umidade durante todo o ano. A região passa por duas estações bem definidas: a chuvosa, entre novembro e abril, e a menos chuvosa, de maio a setembro. Durante o período seco, trilhas e rios tornam-se mais acessíveis.

Para os aventureiros, os meses de junho a setembro são os mais indicados, garantindo melhores condições para caminhadas, travessias e observação da vida selvagem. Nessa época, as chuvas e a atividade de insetos, como abelhas e formigas, e animais peçonhentos são menos intensas permitindo uma experiência mais segura e proveitosa em meio às paisagens exuberantes da serra.

Aventura na Serra do Divisor

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Rio Moa. Por Leonardo Honorato Santos, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons;

Trilhas e Cachoeiras Escondidas

O acesso à Serra do Divisor é, por si só, uma aventura: geralmente parte-se do Porte Mâncio Lima, e navega-se de barco pelo Rio Moa durante cerca de 8 a 10 horas até o coração do parque, onde ficam as pousadas. Rio acima, para proteger a área, a navegação é limitada pelo ICMBio, que regula até onde essas embarcações podem subir. Uma vez lá, o passeio se intensifica nas navegações para as trilhas até o mirante e cachoeiras pouco exploradas, preservando o caráter selvagem do lugar.

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Mapa do Parque Nacional da Serra do Divisor – Sobre Montanhas

Dentre os principais atrativos estão:

  • o icônico Mirante da Jacirana, um ponto elevado com vista panorâmica que revela o mar de floresta e a proximidade com o Peru;
  • a Cachoeira do Amor, ideal para um banho refrescante logo após a subida do mirante;
  • a encantadora Cachoeira do Ar Condicionado, batizadas assim pelo vento gelado que exala da queda d’água;
  • o Buraco da Central, uma história marcada por uma tentativa frustrada de exploração de petróleo, realizada pela Petrobras nas décadas de 30. O local ainda guarda vestígios desse passado, como maquinários abandonados e estruturas de perfuração que contrastam com a paisagem selvagem ao redor. Esses elementos oferecem um mergulho histórico, além de uma experiência visual curiosa, entre a natureza exuberante e o legado industrial da região. Dizem ter cerca de 700 metros de profundidade, e sua força de água chega a empurrar quem entra;
  • trilha da Cachoeira da Formosa: considerada uma das mais exigentes e recompensadoras do parque. Há registros com distâncias entre 15 km (nível difícil) e até 22 km (nível moderado), com desníveis que variam de 216 m a 319 m. Uma versão encontrada na Rede Brasileira de Trilhas indica cerca de 14,4 km, com camping a 12 km e trecho final com pontes improvisadas sobre igarapés. Recomendado fazer pernoite no camping para completar o percurso com segurança e permitir uma experiência imersiva na selva.

Observação de Vida Selvagem

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choca-do-acre. Por Hector Bottai – CC BY-SA 4.0 – https://s3.animalia.bio/animals/photos/full/original/thamnophilus-divisorius-acre-antshrike-28male292c-serra-do-divisor-national-park2c-acre2c-brazil.webp

A Serra do Divisor é um paraíso para amantes da natureza interessados em avistar espécies raras da fauna amazônica. A região abriga aves exóticas, como araras e tucanos, além de mamíferos como macacos e antas que habitam as áreas mais remotas.

O turismo de observação exige paciência e respeito ao ambiente, permitindo experiências únicas de contato visual com animais em seus habitats naturais. Guias especializados auxiliam na identificação das espécies e conduzem os visitantes por rotas seguras, tornando a atividade educativa, sustentável e profundamente enriquecedora para quem busca conexão com a vida selvagem.

A observação de aves na Serra do Divisor é uma atividade imperdível, coroada por mais de 520 espécies registradas em seus 843 mil hectares, o que representa mais da metade das aves amazônicas que se encontram no estado do Acre. Para apoiar essa prática, o Parque Nacional da Serra do Divisor dispõe de um Guia de Aves bilíngue (português-inglês), fruto de uma parceria entre o USFS, ICMBio, IPÊ e o governo do Acre.

Dentre os registros, destaca-se a Choca-do-Acre (Thamnophilus divisorius), descoberta em 2004 e exclusivamente avistada nesta serra, restrita às altitudes entre 400 e 600 metros. Recentemente, observadores registraram duas novas espécies de beija-flores no parque: o beija-flor rabo-de-espinho (Discosura langsdorffi), com faixa branca na cauda, e o topetinho-verde-amazônico (Lophornis verreauxii). A realização de oficinas locais com moradores das comunidades tradicionais, como Pé da Serra, fortaleceu técnicas de interpretação ambiental e permitiu maior participação no turismo de observação de aves 

Comunidades Locais e Cultura Amazônica

caldeira buraco da central

Caldeira abandonada

Além das belezas naturais, a Serra do Divisor guarda um patrimônio cultural valioso, representado pelas comunidades tradicionais que vivem na região. Povos ribeirinhos e indígenas preservam costumes, saberes e práticas que atravessam gerações, mantendo viva a essência amazônica.

Os ribeirinhos que habitam a região da Serra do Divisor vivem em estreita relação com os rios e a floresta, dependendo da pesca, da agricultura de subsistência, do extrativismo sustentável, e do turismo para sobreviver. Essas comunidades preservam técnicas tradicionais de manejo dos recursos naturais e contribuem para a conservação do parque. Além disso, oferecem hospitalidade única aos visitantes, compartilhando histórias, saberes locais e culinária típica da Amazônia acreana.

Os povos indígenas, por sua vez, representam a ancestralidade viva da região, mantendo tradições, crenças e práticas espirituais profundamente ligadas à natureza. Algumas aldeias participam de projetos de turismo sustentável, permitindo ao visitante conhecer costumes, artesanato, rituais e o modo de vida que há séculos protege esse ecossistema. Essa convivência respeitosa proporciona experiências culturais enriquecedoras e fortalece a valorização do patrimônio imaterial da floresta.

Na região da Serra do Divisor, há registros de tribos indígenas isoladas, grupos que optaram por manter-se sem contato direto com a sociedade moderna. Esses povos vivem de forma autossuficiente, caçando, pescando e coletando recursos da floresta, preservando tradições milenares. Sua presença reforça a importância da proteção integral do parque, garantindo que seus territórios permaneçam inviolados. Qualquer aproximação não autorizada pode representar riscos à saúde e à sobrevivência dessas comunidades, além de ameaçar o equilíbrio cultural e ambiental da área.

Durante as expedições, é possível conhecer aspectos da culinária local, artesanato e histórias sobre a relação harmoniosa dessas comunidades com a floresta. Esse contato cultural enriquece a experiência do visitante, mostrando que o verdadeiro encanto da serra vai além da natureza intocada, estendendo-se às pessoas que ajudam a preservar e valorizar esse território singular.

Desafios e Conservação Ambiental

cachoeira do ar condicionado

Cachoeira do Ar Condicionado

Acesso e Infraestrutura Limitados

Chegar até a Serra do Divisor não é simples. O acesso envolve longas viagens fluviais e trilhas em áreas de floresta densa, exigindo preparo físico e apoio logístico especializado. A ausência de estradas pavimentadas mantém a região isolada, preservando seu caráter selvagem, mas dificultando o turismo regular.

Além disso, a infraestrutura turística é mínima, com poucas opções de hospedagem e alimentação. Essa limitação exige que os visitantes estejam preparados para experiências rústicas e imersivas. Por outro lado, esse isolamento contribui para manter a integridade ambiental e a autenticidade das aventuras oferecidas pelo parque.

Projetos de Preservação

A conservação da Serra do Divisor é essencial para proteger sua biodiversidade única. Diversas iniciativas ambientais envolvem órgãos governamentais, pesquisadores e comunidades locais na criação de estratégias de manejo sustentável e proteção contra desmatamento ilegal e caça predatória.

Além disso, projetos de educação ambiental incentivam visitantes e moradores a preservarem a floresta e valorizarem o turismo responsável. Essas ações buscam garantir que a região continue sendo um santuário natural para futuras gerações, equilibrando a exploração turística com o respeito à natureza e aos recursos culturais que tornam o parque tão especial.

Conclusão

cachoeira formosa

Cachoeira Formosa

Um Destino para Verdadeiros Exploradores

A Serra do Divisor permanece como um dos últimos refúgios intocados da Amazônia brasileira, reunindo paisagens grandiosas, biodiversidade exuberante e experiências únicas para quem busca aventura em meio à natureza selvagem. Seu isolamento preserva a autenticidade do local, tornando-o ainda mais especial para exploradores que valorizam destinos pouco conhecidos.

Mais do que um passeio, visitar essa região é um convite para vivenciar a essência da floresta e compreender a importância de sua preservação. Um lugar que combina beleza natural, desafios e cultura, revelando o Acre como destino essencial para amantes do ecoturismo de aventura e da vida ao ar livre.

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